Uma página de Facebook e muita história pra contar

“A visão histórica é a visão mais importante do mundo.Através dos intertextos, você pode resolver as questões da sociedade”. Sabe quem disse isso? Leia e conheça o seu perfil


Aclamado pelos especialistas e fonte de curiosidade para o público em geral na internet, a página no Facebook “Imagens Históricas” cativa seus leitores por uma missão inovadora: enxergar o passado marcado nos livros e fotos de uma nova forma. Como diz seu criador, Giovanni Arceno, “uma visão dinâmica dos fatos que marcaram o mundo”.

Com oito meses de criação, o “bebê” do estudante de publicidade e apaixonado por história desde os 11 anos, já soma um público leitor superior a 400 mil pessoas. A ideia de criar a página nasceu algumas semanas antes de Giovanni decidir, “aos 48 do segundo tempo”, mudar sua escolha acadêmica: de História para Publicidade e Propaganda.
Giovane
“Eu tinha até ganhado umabolsa pra fazer História, mas não sei o que me deu”, conta com fala rápida em todo tempo da conversa.
Filho de um historiador garuvense, Giovanni diz ter começado suas leituras com a mitologia grega. “Quando a gente é criança tem um fascínio pelos deuses e tal”. Na quinta série, teve um professor que diz ter mudado sua visão de História. Gleison Vieira foi um dos primeiros assinantes da página criada por seu aluno.
“Os melhores e-mails que a gente recebe são aqueles em que os leitores contam fascinados que aprendem história de uma forma diferente”, revela o jovem de 18 anos que estuda no Bom Jesus/Ielusc.
Apesar de ter menos de um ano de trajetória, o trabalho, que começou como um passatempo, teve algumas fases difíceis até chegar no prestígio acadêmico, na repercussão com alunos e editoras de livros de São Paulo e Rio de Janeiro.
A primeira etapa foi marcada por alguns revezes. Conseguir alguém “também apaixonado por história” para colaborar no conteúdo foi uma tarefa difícil. Giovanni conta ter sido enganado por um estudante de História que morava em São Paulo. “Eu nem acreditava que eu tinha tomado um calote daquele tamanho”, exclama, perplexo e risonho. De olho no público crescente da página, que na época já passava de cem mil pessoas, o “caloteiro” fez uma permuta com uma loja de videogames onde morava. O acordo era simples: anunciava na página de Giovanni, sem consultá-lo, e ganhava um X-box 360 em troca da loja.
A tentativa não deu muito certo. Giovanni, enquanto zanzava pela página, percebeu o anúncio alguns minutos depois e excluiu imediatamente a postagem - tirou da lista também o “cara” que tinha prometido criar conteúdo sobre História, mas estava mesmo interessado em videogames. “Essa foi a minha sorte - não tinha nenhuma curtida ainda!”, expressa.
Salvo o tropeço na captação de voluntários, Giovanni se dedicou bastante e conseguiu formar uma equipe com quatro novos integrantes. O time é formado pelos estudantes de Direito Caian Zambotto e Antônio Augusto Lima, mais o historiador e pesquisador Carlos Frakiw e o estudante de História Giovane Zaneratto (também conhecido por Gio). Em outubro, entrou para a equipe a economista Talita Cavalcante.
Todos contribuem com criação de conteúdo, mas, na estrutura, Giovanni gerencia a página e faz o atendimento ao leitor. Caian, de Suzano, no inteior paulista e Antônio, que mora na capital sergipana, estão viabilizando a parte jurídica, pesquisando os direitos autoriais e solicitando a criação de um site dedicado - fora da plataforma do Facebook.  “Por questões de segurança. O site é seguro, mas não temos garantias se o conteúdo será preservado”. O mineiro de Belo Horizonte Carlos, e Gio que mora em Araras/SP, cuidam da pesquisa histórica de todas as publicações antes de irem ao ar. Checam nos livros, acervos virtuais internacionais e acessam a comunidade de historiadores para chegar a um conteúdo mais refinado. De Campinas, Talita contibui especialmente na criação de conteúdo.
As principais ferramentas de comunicação entre a equipe são o telefone e o próprio Facebook, onde interagem em um grupo de trabalho e escrevem, escrevem e escrevem. “Cada um em um lugar”, conta Giovanni.
Interação com público
Quase metade do conteúdo do Imagens Históricas (IH) é contribuição dos leitores. Professores, pesquisadores, alunos e apaixonados pelo tema contribuem com fotos e registros em textos. Nas próprias postagens, os leitores também agregam conteúdo. Descobrem a autoria das fotografias, pinturas e ajudam na busca por registros.
Das várias conversas interessantes via atendimento ao leitor (média de 70 e-mails por dia), Giovanni destaca uma das mais recentes: os 90 anos de Dias Gomes.
Mayra Gomes, filha do escritor morto em 1999, entrou em contato com a equipe da página. A ideia era postar uma foto do arquivo pessoal no dia 19 do mês passado, quando era comemorado o aniversário de seu pai. O pedido foi prontamente atendido. A foto mostrava o célebre escritor sendo recebido por Lygia Fagudes Telles e Jorge Amado na Academia Brasileira de Letras.
A gratidão de Mayra e quase todas as pessoas que interagem com Giovanni recebem as respostas como “Imagens Históricas” na assinatura. O estudante afirma ter feito questão de não revelar a identidade de quem cuida do conteúdo. “Já recebemos muitas mensagens curiosas sobre quando enfim iremos revelar quem somos”, conta. Para ele, a imagem de um rapaz jovem, pode tirar um pouco da credibilidade, “principalmente todos pesquisadores e professores”, conta.
Até o fim de outubro, mais de 16 mil pessoas de outros países haviam curtido a página. Recentemente, Giovanni recebeu um e-mail de agradecimentos vindo da República Tcheca - redigido em inglês. À partir daí, a equipe iniciou a busca por voluntários que queiram traduzir o conteúdo para o futuro site que está em construção.
Um dos fatores motivadores para a evolução do trabalho no IH, segundo Giovanni, foi o retorno do meio acadêmico. Dos destaques, ele menciona o retorno de um professor de Museologia baiano. Segundo Giovanni, sua página está no foco central de um artigo que será publicado na revista da universidade.
A página também foi alvo de especialistas em redes sociais. Giovanni foi convidado a passar dicas a uma agência da cidade para saber “qual foi a estratégia adotada para conseguir cativar tantos leitores”. “Eles até me pagaram um cachê”, conta . “Mas não existe estratégia, o que mais prezamos é o atendimento ao leitor. Buscar tornar o conteúdo o mais interessante o possível”, afirma.
Não conhece ainda? Para visitar a página: www.facebook.com/historicasimagens

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bola na cachola

Ditadura militar e televisão: duas forças unidas contra a liberdade de expressão brasileira

Como não falar dela?